Barteleby, o escrivão e A espuma dos dias

Li recentemente estes dois livros, ambos suis generis mas que deixaram a pensar.

Bartleby, o Escrivão" de Herman Melville

É a história de um advogado e do seu enigmático funcionário, Bartleby, que gradualmente se torna mais e mais apático e desinteressado. Qualquer tarefa que lhe seja proposta ele simplesmente diz: "Preferia não o fazer" 

"Por vezes não fazer nada é a coisa mais violenta que se pode fazer".
Alguns livros valem pela escrita, outros pela história, para mim este vale pelos dois. É um livro fácil de ler sem ser simplista, com um toque de humor e uma descrição deliciosa das personagens (o Pinças e o Peru, principalmente). Mas ao mesmo tempo aborda temas como a solidão e a depressão.

Confesso que fiquei exasperada com o Bartleby e com a sua inatividade, sinal que o livro me envolveu.

⭐⭐⭐⭐⭐

A Espuma dos Dias, de Boris Vian
Definitivamente um livro difícil de descrever, ou não fosse ele surrealista.
Tudo começa num tom cor-de-rosa e idílico, cheio de luz, as personagens jovens, saudáveis, felizes... para terminar em escuridão e tragédia.
Ao longo do livro apercebemo-nos de pequenas alterações no teor da narrativa, que contribuem para um lado mais depressivo: o sol cada vez brilha menos, a casa vai encolhendo, as pessoas envelhecem anos em meses, a comida vai piorando. No final, até o rato tenta fugir dessa escuridão.
Não recomendo a todos os leitores, principalmente quem gosta de livros factuais ou pelo menos com cenas reais. Sim, porque neste livro pescam-se enguias nas torneiras, apanham-se raios de sol com as mãos, arrancam-se corações em pleno bar e há quem tenha nenúfares nos pulmões...

⭐⭐⭐⭐